sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Rebelde com Causa

Desculpem.
Não dá pra sorrir.
Pra manter a necessária calma.
Se estou insultado até a alma.
Não da pra disfarçar o ressentimento,
E me esconder por trás de indecente aparência.
Não dá pra abafar o mau cheiro
E virar as costas a imundície exposta.
Não, não dá pra sufocar o asco
E ter que me contentar 
Com o lado podre da maçã.

Fábio Murilo, 30.04.90

Lúcio Mauro (Monólogo das Mãos)

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Acontecência

Quero viver a todo custo, a todo susto,
Morrer de ansiedade querendo a saciedade.
Melhor que não ter sido.
Que a adrenalina seja nitroglicerina,
Queimando nas veias, emoção pura.

Ou se morre de tédio, ou se vive estressado,
Não tem jeito, prá morrer estamos fadados.
A vida só vale pela emoção.

Qual a função das pedras, ensimesmadas,
Criando lodo de tão paralisadas,
Enfeitar o chão?

Tudo na vida vale à pena,
Horror é não fazer nada, é o nada.
É não acontecer, quando se poderia ser,
E se arrepender do que deveria ter sido.

Fábio Murilo, 07.06.2012

Augusto dos Anjos - Idealismo

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O Inocente Útil

Não esperemos muita coisa da vida. 
Sejamos apenas uma flor
Atrás de uma pedra,
Numa estrada qualquer
Do interior.
Sejamos como aquele inseto
Cuja gloria e ter
Algumas horas de vida.
Como crianças inocentes
Que não se interrogam,
Nem rogam aos céus,
Pois tem como céu essa vida.

Fábio Murilo, 22.07.2012

Carlos Vereza recita Drummond - A Flor e a Náusea

Carlos Vereza recita Drummond - A Flor e a Náusea from Glauco Fox on Vimeo.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Divagações Sobre um Dia de Chuva

Nesse domingo cinza e molhado,
Que deveria ser azul, civilizado.
Sem essas nuvens chumbo.

Mas essas nuvens também são do mundo,
Chumbo também é uma cor,
Cor de quem olha a existência
Com discrição e sem apego.
E parece não ter medo...

Prá esses, o frio não faz mal ao espírito,
E não incomoda o estar só.
Pois trazem, dentro de si, o próprio sol,
Um sol particular.

Fábio Murilo, 20.02.2011

O Sonho de um Homem Ridículo, Curta baseado na obra de Dostoiévsky

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Teológico

Professo a religião
Dos que arregaçam as mangas,
Dos que não abandonaram o barco.
Dos que constroem no hoje
As bem bem-aventuranças do amanhã.
Meu credo é dos que se solidarizam
À cotidiana aflição do povo
E dividem como o irmão
“o pão que o diabo amassou”;
Dos que não se prostram, acomodados,
À margem da estrada,
E não fazem de Deus seu burro de carga.

Fábio Murilo, 23.04.91

A Casa de Pequenos Cubinhos