sexta-feira, 28 de março de 2014

Aniversário no Subúrbio


Desde o momento que acordamos,
Concordemos, a vida passa...
A vida escorre dos dedos distraídos,
Minutos preciosos são perdidos,
Para sempre desperdiçados.
O tempo não passa rápido
É mal aproveitado.

O sol me cerca de todos os lados...
E é até um pecado, eu nessa cadeira,
Quando há tantos, definitivamente, sentados.

O domingo me acusa desse crime hediondo
E diz: vamos aos festins dos mortais,
Dos que não querem mais nada,
Que a alegria embriagada de suas vielas.
Da fumaceira cheirosa,
Dos seus quitutes ensebados
A escore-lhes dos lábios.

E o que é alegria, afinal?
Alegria não é uma alegoria,
Alegria é um estado de espírito,
Bem físico, por sinal.

Fábio Murilo, 25.01.10

Das Vantagens de Ser Bobo - Clarice Lispector

sexta-feira, 21 de março de 2014

Morte Súbita


Morrer é uma estupidez sem tamanho.
É um processo medonho de se vivenciar.
É uma roleta maldita, só com opções sinistras:
Há um predador vigiando em cada esquina,
Há um bichano embaixo do sofá,
Esperado o momento de atacar a presa,
Um tombo, um descuido, uma fraqueza...
Pular no lombo, na jugular.

Morrer é profundamente trágico.
Deveríamos como as lâmpadas apagar.

Fábio Murilo, 20.05.2004

A Gente se Acostuma, mais, não Devia.

sexta-feira, 14 de março de 2014


Não quero mais ser
Compreendido,
          Nem incompreendido,         
Nem mal interpretado.
Nem ecoado ser ouvido,
Não ser ouvido
Não tem mais importado.

Clamarei no deserto.
Falarei com as víboras,
Os escorpiões,
O areal inumerável,
As miragens imaginadas
Imitando água.
Com eventuais tuaregues,
Acostumado à solidão,
A longos solilóquios,
A vida nômade
Sem ter prá onde.

Fábio Murilo, 20.06.2013

Ao Pensar Em Você - Poema de Nanda Olliveh

sexta-feira, 7 de março de 2014

Depois de Tudo


Homem como os demais,
Apegado às coisas materiais,
Quando morre, jamais...

A casa, túmulo em vida,
E todas as coisas findas,
Ficam pra trás.

De seu, só o próprio corpo, jaz,
Do jeito que veio, vai.

Tão estático
Como as flores de plástico
Fingindo que estão vivas;
Tão ausente
Como as estátuas da praça
Fingindo que é gente.

Fábio Murilo, 20.07.2009

Instantes