sexta-feira, 31 de julho de 2015

Impressão


Existe uma estrada que une
Dois caminhos, um desvio.
Um rio que transborda antes,
De alguém passar.
Um lugar não determinado,
Um encontro inesperado,
Não combinado antes.
Um pretexto qualquer,
Um descuido, um tombo,
No exato instante.
Um motivo, acidente,
Engano, acaso, lapso,
Magnetismo, destino, sina...
Vai saber, sei lá.
Algo a conspirar, inspirar,
 Insinuar furtivamente,
Direcionando a gente
Ao que tem que ser e será.

                           Fábio Murilo, 05.07.2015                              

domingo, 26 de julho de 2015

Alumbramento


Você é afável, autêntica, estável.
Inacreditável que exista,
Sobreviva nesse mundo inviável.
De relacionamentos descartáveis,
Superficiais, sem compromisso.

A emoção escorre-me dos dedos,
E no papel te descrevo,
Qual Pero Vaz de Caminha
Avistando o paraíso.

Seu jeito incrível, notável,
Irretocável, inconfundível,
Surpreendentemente vivo.
Como as exuberantes ilhas,
A muitas milhas da costa,
Fora das rotas dos navios,
No vasto oceano pacifico.

Fábio Murilo, 26.07.2015

sábado, 18 de julho de 2015

Desmotivação



Sinto-me fora de moda, inadequado.
Num tempo que não me reconheço,
Avesso, sem vontade, nem face.
Como um boi no shopping center,
Um elefante no centro da cidade.

Toda aflição do mundo me alcança,
Sou criança nesse instante nascida,
No vale de todos os perigos, a vida.
Extremado, como nunca,
Nunca sou ameno, mais ou menos.
Estúpido, impotente, decadente,
Isolado, nesse quarto fechado,
Aprisionado na realidade.

Sofro desse permanente
Mal estar no mundo.
Algo sempre me incomoda,
Como um espinho na carne,
Uma nódoa, no tecido
Recém comprado.

Tenho predisposições heroicas,
De deixar algo registrado,
Além da pegada, que todos
Deixam marcada e datada
No cimento fresco.

Uma apatia que tu curarias
Se viesses agora, seria a gloria!
A noite se encheria de estrelas,
Repercutirias no universo,
Os versos te festejariam, poesias.
Cairias como uma luva, um cais,
Onde eu ancoraria meus ais,
Nesse momento adverso.
  
(Fábio Murilo, 18.07.2015)

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Um Pássaro Voa


A negra fragata passa voando
Em pleno perímetro urbano,
Num dia atípico, sol a pino,
Típico inverno nordestino.

Sobre sonâmbulos smartphones,
Filas de bancos, ponto de ônibus.
Mesas de bares, ébrio sorrisos.
Gente apressada, preocupada.
Cidadãos ansiosos, depressivos.
Esbarrando-se no asfalto.
Aglomerado sem rumo,
Povo desinteressante, igual.
Inexpressivos mortos-vivos.

Prisioneiros do imediatismo,
Do presente instante, apáticos,
Nem ao menos um assomo.
Contando os dias, as horas, 
O final de semana, do mês,
Do ano, sempre esperando.
Assistindo pelos telejornais
Noticias sazonais, abruptas,
De terremotos, vulcões ativos,
Tsunamis, 11 de setembro,
Meteoro que cai na Rússia...
Despertando-os, pelo menos,
Num átimo de  tempo,
Do torpor cotidiano.

Fábio Murilo, 07.07.2015